domingo, 22 de fevereiro de 2009

SMS: a história de uma ideia que mudou a comunicação moderna

Primeiros SMS serviam apenas para alertar de problemas na rede

Há 15 anos era impensável uma guerra de SMS como a que envolveu recentemente Marques Mendes e Luís Filipe Menezes, tentando mostrar quem foi o responsável pela ideia das eleições directas para a liderança do PSD. Era impensável porque as mensagens de texto conhecidas por SMS (de short message service ou serviço de mensagens curtas) enviadas por telemóvel tinham acabado de ser inventadas.O nascimento do SMS, que permite criar uma mensagem até 160 caracteres (incluindo espaços), é comemorado em duas fases. O primeiro envio de uma mensagem de texto para um telemóvel foi feito a partir de um computador a 23 de Julho de 1992.

A primeira mensagem comercial entre telemóveis só foi realizada a 3 de Dezembro desse ano. Dessa primeira mensagem pouco se sabe, excepto que foi enviada pelo engenheiro Neil Papworth (as opiniões dividem-se se a partir do Sema Group ou da Airwide Solutions), através da rede da Vodafone, para um director desta operadora no Reino Unido, Richard Jarvis. Desejava-lhe antecipadamente um bom Natal (Merry Christmas). Já a primeira mensagem comercial foi enviada por Riku Pihkonen, estagiário da Nokia.Pensado inicialmente como um sistema paralelo para alertar o utilizador do telemóvel para novos serviços ou receber mensagens de aviso de problemas na rede, o SMS não era apelativo para as operadoras - não só porque tinham as suas receitas preferenciais na voz, como não imaginavam que alguém quisesse optar por escrever mensagens num minúsculo teclado quando podia falar pelo aparelho.Nestas condições, não admira que o SMS só tenha descolado comercialmente a partir de 1999, quando as operadoras telefónicas permitiram a circulação de SMS entre redes diferentes.

Em paralelo, com a introdução de sistemas de pagamento mais atractivos (como o pré-pago), o telemóvel generalizou-se junto das camadas jovens que, para pouparem uns tostões, optaram pelas acessíveis mensagens e surpreenderam as operadoras - bem como os puristas que rapidamente viram o descalabro em que a escrita neste meio se tornou e alastrou ao ambiente escolar. As frases eram condensadas para permitir um envio mais rápido.O serviço estava delineado desde 1985 quando foi integrado nas especificações da norma GSM que as redes de telemóveis europeias utilizam. Já a paternidade das SMS é duvidosa. Cor Stutterheim, presidente da empresa CMG, revelou em 2002 ao diário The Guardian que a empresa criou esta tecnologia para as operadoras "alertarem os seus clientes sobre coisas como problemas com a rede". A tecnologia "não foi pensada para comunicação entres consumidores". Acision assume ter criado o primeiro sistema de gestão das mensagens (SMSC ou short message service center), que apenas conseguia gerir 10 envios por segundo. Segundo a empresa, que assegura "processar mais de metade de todo o tráfego global de SMS", o primeiro contrato foi assinado com a operadora escandinava Telenor e só em 1999 se atingiu o envio de 500 mensagens por segundo.Em 1995, a média de SMS enviados por utilizador de telemóvel era de 0,4 mensagens, número que subiu para 35 em 2000.

O virar do século contribuiu, por outras razões, para o sucesso deste tipo de comunicação quando surgiram programas televisivos como o "Big Brother" que convidavam os espectadores a interagir pelo telemóvel.Em 2001, atingiram-se os 250 mil milhões de mensagens enviadas quando se apontava então para 500 milhões de clientes de redes GSM. Segundo a União Internacional das Telecomunicações (ITU), o valor global destas mensagens ultrapassou os 80 mil milhões de dólares em 2006. Actualmente, calcula-se que são processadas 7000 milhões de mensagens por dia e os sistemas de gestão de envios atingem as 16 mil mensagens por segundo.O sucesso das SMS pode ser condensado no anúncio, realizado no final de Julho, de que o SMS Forum (organização cuja missão era "desenvolver, acelerar e promover as SMS") vai desaparecer até final do ano.

Pedro Fonseca, Diário de Notícias, 31.08.2007

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