terça-feira, 15 de janeiro de 2008

O que é aceitável ou condenável no uso da língua?


(...) Por último, cada vez mais fruto do desenvolvimento dos meios tecnológicos e de comunicação, é frequente encontrarmos mensagens de chats da televisão, telemóvel, e-mails ou do Messenger, com "abreviaturas" (se tal lhes podemos chamar) absolutamente incríveis (e incompreensíveis). Claro, abreviaturas sempre as houve: basta ver textos latinos ou latino-romances (já aí se abreviava "que" por "q" com traço sobreposto!!!...), textos portugueses desde o século XIII (os copistas - não havendo fotocópias na época - tinham que escrever variadíssimas vezes o mesmo texto ou outro semelhante), ou apontamentos de estudantes dos anos setenta ou oitenta... (por ex., "momento" por "mom/º", "certamente" por "certa/", "verdade" por "verdd", "professor" por "prof" e faculdade por "fac" ou - o mais difundido - "q" por "que").

O problema não são as abreviaturas. Não me choca nada colocar "mm" por "mesmo", "mto" por "muito", ou "bjs" por "beijos"... O que "assusta" são as alterações estranhas e não lógicas a estas abreviaturas, como "ke" ou "k" por "que" (qual é a diferença de usar "q" na mesma situação?) ou (o que é pior) por "c" ("kasa" em vez de "casa"!!!), totalmente ridículas e que deturpam a língua como "xe" por "se" ou "ixo" por "isso"... Já para não falar que o k nem sequer faz parte do alfabeto usado em Portugal (salvo para nomes estrangeiros, claro, como Kant e kantiano, etc).
O problema é que vários professores já se queixam (e com razão) de que os alunos começam a dar erros de tal modo estão "viciados" nessa "nova grafia".

E acresce ainda a falta de interesse dos jovens pela leitura (acham que é muito mais sedutor um jogo de computador ou um DVD do que um livro...!), criando uma consequência grave: o que lêem é grafias deturpadas nas "conversas" com os colegas, e viciam-se nelas a ponto de as assimilarem visual e mentalmente, tornando-se - assim - a verdadeira escrita que conhecem e dominam. Aí sim, há que corrigir o aluno e fazê-lo entender que um texto da aula não é uma SMS ou um "chat" do Messenger!... Ou se actua agora, ou será demasiado tarde! (...)

Carmen Gouveia [Linguista e docente na Universidade de Coimbra], edit on web, 15.01.2008
(versão integral aqui)

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